De coadjuvante a astro principal: o Gato de Botas surgiu no cinema como um dos personagens de conto de fadas da série Shrek a partir do segundo filme, em 2004. O destemido bichano que fala com a voz de Antonio Banderas e seduz todo mundo com seu premeditado olhar pidão virou protagonista agora em Gato de Botas (2011), animação que entra em cartaz no dia 9 de dezembro – mas cuja divulgação começou no Brasil nesta sexta-feira, com a presença no Rio dos atores principais e do diretor do longa.
A maratona de entrevistas no Copacabana Palace incluiu Banderas e Salma Hayek, que encarna a gata gatuna Kitty Pata-Mansa – além do realizador Chris Miller e do produtor Jeffrey Katzenberg. Um dos sócios da produtora DreamWorks, Katzenberg lembrou na entrevista coletiva que quem deu a ideia de dedicar um filme especialmente ao gato calçado foi o ator espanhol:
– Agora que fizemos um filme, Banderas pediu para fazermos o segundo.
Já Banderas relembrou como sua dublagem do Gato de Botas foi na contramão do que seria mais óbvio:
– O normal seria ter uma voz condizente com o tamanho do personagem, mas nós fomos na direção oposta, criando uma voz profunda, grandiosa.
Emprestando sua voz pela primeira vez a um personagem de desenho, a mexicana Salma Hayek contou em entrevista exclusiva a Zero Hora que não fazia a menor ideia de como seria seu personagem:
– O diretor não me mostrou nenhum desenho, nem eles mesmos sabiam como seria a Kitty. Então, pude improvisar bastante, principalmente brigando com Antonio (Banderas). Chris (Miller) não me deixou nem ler o roteiro!
– É que ele não confiava em você! – provocou Banderas ao lado.
– Descarado! – rebateu Salma, dando um soquinho de brincadeira no ombro do colega.
Foi nesse clima de amistosa implicância que a dupla central de Gato de Botas conversou com a imprensa. A linda e simpática Salma, 45 anos, contou que chegou a Hollywood sem dinheiro, sem lugar para ficar e sem permissão para trabalhar.
– Não sabia que precisava ter um agente para trabalhar lá – explicou a atriz, lembrando que nos Estados Unidos começou fazendo pontas, depois de já ser uma estrela no México graças a filmes como O Beco dos Milagres (1995).
Na coletiva, Salma revelou pela primeira vez que Frida (2002), filme que estrelou e produziu, quase foi dirigido pelo brasileiro Walter Salles:
– Trabalhamos bastante juntos e ele acrescentou muito ao projeto. Infelizmente, porque demorou muito tempo para a produção começar, ele acabou pegando outro filme. Sinto que um pouquinho de Frida é do Walter.
O brincalhão Banderas, 51 anos, disse que gosta de variar o tipo de papel que interpreta:
– Como ator, gosto de visitar diferentes estilos e diretores. Neste ano, fui da claridade e da alegria de "Gato de Botas" à escuridão de Almodóvar.
Respondendo a Zero Hora sobre como foi voltar a trabalhar com Pedro Almodóvar 20 anos depois da última parceria de ambos, em Ata-me! (1990), o espanhol assumiu um tom solene:
– Foi muito difícil, porque Almodóvar é muito denso. Acho que o filme ainda não me deu tudo o que ainda tem para me dar. A Pele que Habito me mudou artisticamente.
Diretor de Shrek Terceiro (2007) e roteirista de outros títulos da série, Chris Miller falou da utilização do 3D em Gato de Botas:
– O formato combinava perfeitamente com os personagens e com a história. Legal ver na tela esse personagem pequeno, mas que é maior do que a vida. Criamos uma trama que funciona também em 2D, mas fica muito melhor em 3D.
Em Gato de Botas, o protagonista envolve-se na busca pelos feijões mágicos que dão acesso ao castelo onde uma gansa põe ovos de ouro, auxiliado por seu ex-amigo de formato oval Humpty Dumpty e pela insidiosa Kitty. Independente e habilidosa, a gatinha não se micha diante do gatão, brigando de igual para igual com ele e desafiando-o em uma disputa de dança que mistura flamenco, tango e salsa.
– O que mais gosto na gata é que ela é uma personagem feminista. Ela mesma vai e salva o macho, o que na vida real é sempre assim: nós é que temos que salvar os homens. Ela também não é melodramática. É um personagem que vai contra os clichês das mulheres latinas – disse Salma, acrescentando: – Da próxima vez, faremos a dublagem em português e os gatos vão sambar.